Cada
um de nós vai tendo, com o decorrer dos anos, dias certos de
celebração ou de saudade. Cada um saberá dos seus e conhecerá a
melhor forma de invocar memórias e de elevar um pouco mais o
pensamento em direcção a um espaço que não se descreve e que se
situa exactamente dentro de nós. Recordar amores passados, com um
sorriso nostálgico mas não saudosista; pensar nos que partiram
antes de nós, gravando no nosso ADN o Dia e a Hora da despedida;
recuperar, com sofreguidão, os verões da nossa juventude, onde tudo
era simples, claro e natural; recuar até à infância, lugar eterno
onde os nossos pais nunca envelheciam e os nossos avós ficavam
cristalizados nas nossas carícias e nos nossos abraços.
Acreditar,
enfim, que as celebrações mais importantes não são as que dão
lucro ou as que nos permitem ostentar materialmente o nosso poder
perante o nosso semelhante. E há tantas, a maioria “decretadas”
pelo Estado ou pela(s) Igreja(s)… Contudo, as intocáveis, as
incorruptíveis, as mais sagradas são as nossas, as que não
partilhamos abertamente porque impossíveis de exibir, as que nos
permitem ficar, recatadamente, um pouco mais próximos do verdadeiro
sentido da existência. Porque todos temos um passado. E porque
ninguém é uma ilha.
João Luís Nabo
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Fevereiro de 2017
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