O tempo da Páscoa
será o mais dramático
e, paradoxalmente, o maior motivo da alegria dos cristãos. A Morte
perde o seu sentido mais literal e adquire uma nova dimensão, quando
Cristo, crucificado e morto segundo a lei daquele tempo, renasce,
inteiro e poderoso, ainda que de forma inexplicável para quem
abandonou a fé a favor de um espírito mais científico, focado na
lógica e na razão. O que se pretende sublinhar nesta pequena reflexão não é a defesa de quem acredita, muito menos o aplauso aos que se dizem ateus ou mesmo agnósticos. Porque a mensagem fulcral que, desde sempre, me tem enfeitiçado não é a Ressurreição tal como os crentes a assumem.
O exemplo que retiro deste tempo é a imagem de um Cristo Extraordinário que, renascido, mantém de forma coerente o pensamento e as acções que o tinham transformado num fora-da-lei. Mais do que um regresso à Vida, é um regresso de olhar sereno e espírito tranquilo, é um voltar sem desejos de vingança, de desforra ou de reparação.
Cristo reaparece pacífico, apaziguador, de mão estendida aos que o mataram. Fora perseguido porque se afirmava diferente. Fora condenado por revelar-se consciente das glórias e misérias do mundo. Fora crucificado por manifestar publicamente a sua defesa pelos mais fracos e a sua tolerância para com os que não pensavam como Ele. Mesmo assim, regressou em paz.
É esta, para mim, a grande força da Páscoa.
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Abril de 2017
João Luís Nabo
In "O Montemorense", Abril de 2017
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