Montemor
é uma pequena aldeia. Já o sabemos. Mas é uma grande metrópole
quando pensamos na dificuldade que existe em estarmos, mais amiúde,
com os amigos ou com os familiares. É a falta de tempo. É o cansaço
depois de um dia de trabalho. É outra coisa qualquer. O motivo é
sempre válido e aceite tacitamente por todos.
Contudo, para além das missas de Domingo ou de uma ou outra
iniciativa cultural ou desportiva que nos junta, quase por acaso,
existem outros momentos em que se aproveita para matar saudades, para
pôr as novidades em dia e combinar, ainda que sem grande força
anímica, uma jantarada, um passeio ou apenas um café para
descontrair. Esses momentos são... os funerais.
Pois é: é aí que damos de caras com quem não conversávamos
havia muito tempo. E, sem qualquer desrespeito para com o falecido
ou a família, fala-se de tudo um pouco, desde o tempo, até ao primo
que se alistou na marinha para fugir ao desemprego. Desde a conta da
luz, à vizinha do segundo esquerdo que já vai no quarto casamento.
Dos assaltos de que somos vítimas por causa dos banqueiros e de
outros tubarões, ao nascimento do netinho da vizinha Ercília que
tem um marido de ouro só que já não diz coisa com coisa. Durante
uns bons minutos (por vezes umas boas horas) o cenário do velório
esbate-se e fica lá muito longe, com o espaço ocupado pelas
memórias, pelas novidades, pela alegria que reina entre os amigos
que há muito não se viam. E passam-se alguns momentos...
agradáveis.
E
à despedida? Bom, nessa altura, lá vem a velha frase: “Para
funerais temos sempre de arranjar tempo. Para fazermos um petisco lá
em casa... é uma carga de trabalhos para todos estarem disponíveis”.
“É verdade, é
verdade! Temos de combinar qualquer coisa!”
E pronto. Damos um abraço e até qualquer dia que tenho pressa. Ou
até ao próximo funeral... desde que não seja o nosso.
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