Vem
aí a estação das parvoíces,
a silly
season como
já é conhecida há uns anos. E nesta época de Verão, a crise
grega passa a ser marca de iogurte e os problemas da nossa pátria
ficam localizados muito além da linha do horizonte que separa, de
forma ténue, o céu do mar que o espelha (obrigado, Fernando). O Sol
e o seu respectivo pôr, se há uns anitos era motivo para um passeio
romântico à beira-mar, hoje é uma forma de legitimar o início de
um período (que vai desde o pôr até ao nascer do dito) de valente
descontracção. Basta vestir uns trapinhos de cor branca, pegar num
copo (fundamental) e dançar como se não houvesse amanhã, com gente
que não se conhece de lado nenhum. E o que se faz durante o dia?
Dorme-se até à uma e, depois, faz-se tudo para não se fazer nada.
A
praia passa a ser, nesta altura, o cenário de todas as loucuras: as
gorduras das mais anafadinhas parece que derretem mas não derretem,
porque entre uma sesta e outra arrefinfam-lhe com quatro bolas de
Berlim com creme e três sem creme (por causa da dieta). Depois,
quando o tempo não é o ideal para expor o físico, conquistado à
custa de muito sofrimento nos ginásios deste país de musculados, as
tias do croquete anexam-se a uns amigos de acasião e lá entram
todos nas festas e recepções patrocinadas por revistas e
televisões. Tudo isto é divertido, tudo isto é triste, tudo isto é
fado (obrigado, Amália).
A
silly
season
é também a época dos acasalamentos furtuitos, ocasionais e sem
futuro. É fixe conhecer outros e outras que não os nossos e as
nossas. E quem não teve um delicioso e tórrido amor de Verão que
lance a primeira pedra (obrigado, Zezé). E em relação à malta
nova, todos sabemos que os amores de Verão acabam sempre por ficar
na memória de quem os vive. A outra malta que, como eu, gosta de, no
Verão, jantar fora, no quintal, acaba sempre por viver uns dias
pacíficos, verdadeiramente relaxantes e sem problemas de maior.
Se
dantes era no Carnaval que nada parecia mal, agora é no Verão que
tudo é permitido, porque é engraçado, inofensivo, descontraído e
quiduxo. Pois é, em Setembro, acabam-se as gracinhas e o abanar do
capacete ao som de música reggae
na onda do Everything's
gonna be alright
(obrigado Bob Marley). Mas haja esperança: se a areia da praia não
se tiver enfiado no cérebro dos portugueses, amigos do sol e da boa
vida, talvez ainda venhamos a ter gente capaz de cumprir Portugal
(obrigado, Fernando, e desculpa o abuso).
E
agora despeço-me, porque tenho umas sardinhas a assar no quintal.
Vou receber esta noite a Condessa de Arraiolos e Excelentíssima
Família que decidiram apresentar-me cumprimentos na sua passagem por
esta mui nobre cidade de Montemor a caminho do seu palacete em
Zambujeira do Mar. Já escolhi a música que nos vai embalar, todos
de branco, até o Sol nascer ali por detrás da Serra das Vinagras!
Se quiserem... apareçam.
In "O Montemorense", Julho 2015
1 comentário:
Excepcional !
Este sentido de humor não está ao alcance de qualquer um!
Bom serão, e os meus respeitos à Condessa de Arraiolos.
F. Táta
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