O Novo Professor da Turma
Um professor de
uma qualquer disciplina que comece a leccionar a uma turma sabe que tudo aquilo
que vai ensinar será, directa ou indirectamente, a continuação das matérias, dadas por outros professores nos anos anteriores. Naturalmente que cada ser
humano imprime ao seu trabalho ritmos diferentes, pinta com cores pessoais cada
palavra, cada gesto ou intenção, e um professor não é excepção. Embora pareçam,
por vezes, super-homens e super-mulheres, são apenas seres humanos com qualidades e
defeitos como qualquer outro profissional… ou político.
Independentemente
das suas crenças e dos seus princípios, o novo professor da turma não poderá,
nem deverá, tentar apagar o que foi construído durante vários anos por outros
colegas seus, após longas horas de prática, de planificações, estratégias,
análises, reflexões, frustrações e alegrias. O novo professor da turma tem isso
em conta e será sobre isso mesmo que irá construir o seu processo de
ensino-aprendizagem, respeitando criticamente o conhecimento dos alunos,
entendendo a dignidade dos métodos e das práticas anteriores que os levaram
até aquele momento do conhecimento, e criando condições, de forma consciente,
coerente e profissional, de modo a salvaguardar sempre o interesse dos alunos,
com vista ao seu futuro como profissionais e cidadãos responsáveis.
O novo professor da
turma não vai fazer tábula rasa de tudo o que foi ensinado aos jovens que tem à
sua frente, nem poderá, nunca, ignorar os conhecimentos acumulados por eles,
sabendo, isso sim, utilizá-los da melhor forma para que as suas novas ideias e os
projectos mais inovadores para os alunos tenham o sucesso esperado e permaneçam
depois como património solidificado e inalienável.
Porque um
professor nem sempre sabe durante quanto tempo vai ficar com a turma. E muito
menos quem será o seu sucessor.
O Presidente da
Câmara
Vivemos ainda o
rescaldo das últimas eleições autárquicas. Após a vitória de Olímpio Galvão,
pelo Partido Socialista, instalou-se, por um lado, a certeza de uma mudança no
paradigma governativo autárquico e, por outro, a ansiedade que este tipo de
alterações provoca nos munícipes.
Montemor viveu durante
46 anos sob a égide do Partido Comunista Português, até 1987 integrando a
Aliança Povo Unido (APU) e, depois, como partido principal da Coligação
Democrática Unitária (CDU). Vencendo sempre com maiorias absolutas, o partido
do histórico e insubstituível Álvaro Cunhal, que tinha vindo a perpetuar-se no poder em Montemor-o-Novo, acabou agora por perder, não só a maioria, como as
próprias eleições, dando lugar ao que se julga vir a ser uma nova era para o
concelho onde vivemos.
A análise destes
resultados, muitas vezes a roçar alguns conceitos da psicanálise, deixo-a aos
politólogos da nossa praça, que cada vez são em maior número e que me parecem
muito mais capacitados para isso do que este vosso cronista. Eles lá saberão
responder por que é que a CDU perdeu… Por que é que a maioria do povo já não
está como antes ao lado do candidato comunista… O que levou o CDS a eleger um
vereador… o que provocou a quase completa invisibilidade nas urnas dos
restantes candidatos, enfim, lições de ciência política que a todos trazem
proveito.
Mais importante do
que tudo isso, e o que a maioria de nós quer saber, é como será a nova era - na
prática, no quotidiano, na nossa luta diária - que o novo Presidente da Câmara
quer iniciar. Se, segundo o slogan da sua campanha, “melhor é possível”,
anima-nos esta ideia, sabendo naturalmente de cor o tal ditado de Roma e Pavia,
e tendo consciência de que a passagem de pastas e de responsabilidades terá um
tempo próprio até à implementação, ou continuação, de medidas onde elas se
manifestem necessárias.
Por aqui irei
continuar, enquanto for vivo e com saúde (e enquanto não for despedido), a
reclamar, sempre que considere justo e apropriado, tal como me é outorgado pela
liberdade de expressão e pela vontade de caminhar “por onde me levam meus
próprios passos.” Quero empregos em Montemor. Quero casas acessíveis para todos
os jovens casais que pretendam viver e trabalhar em Montemor. Quero uma
articulação mais eficaz entre a Autarquia e a Educação. Quero o Centro
Histórico protegido, antes que caia. Quero as ruas e os largos limpos. Quero o
Rio Almansor como parte integrante da cidade e cartão de visita de Montemor, em
vez da monstruosidade a que o deixaram chegar. Quero que as futuras obras públicas
(se as houver) sejam produto de bom gosto e de respeito pelo espaço e pela
história e traça arquitectónicas e urbanísticas da cidade. Tal como escrevi
neste espaço, faz agora um mês, não quero um mandatário de um partido político
“a gerir a minha terra e a mandar na minha vida. Quero pessoas. Pessoas
íntegras, com cérebro, honestas, com um profundo e inalienável sentido democrático,
com respeito pelas ideias dos outros, tolerantes, transparentes e com visão.”
Sem querer armar-me em moralista ou em qualquer personagem queirosiana, cheia de verdades de La Palisse, sei de muitos munícipes que votaram em Olímpio Galvão, ignorando propositadamente a sua base partidária de apoio. Não puseram o seu destino nas mãos do Partido Socialista, mas deram o seu voto de confiança a um candidato de Montemor, vindo do povo, consciente das qualidades e dos defeitos da anterior gestão camarária, pai de família, um profissional de referência e um activista, desde muito jovem, em espaços culturais e associativos. E isso, caro Olímpio, é um acréscimo na tua responsabilidade como presidente recém-eleito. Muitos chamar-lhe-iam a tua cruz. Mas nós sabemos que Montemor, que vai passar a estar no centro das tuas preocupações, nunca será a tua cruz. Eu digo apenas que é a tua paixão. E isso basta.
Bom mandato.
João Luís Nabo
(In O Montemorense, Outubro de 2021)
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