As sondagens levadas a cabo antes das eleições são cada vez
mais fiéis aos resultados oficiais. A malta cola-se ao televisor nas
noites eleitorais não para saber quem ganhou, mas para comparar as
percentagens atribuídas a cada força partidária com os números
apresentados previamente pelas sondagens. E é, de facto,
impressionante. Há uma diferença mínima, é certo, mas que não
influencia o resultado final. A minha fofa andou a cismar nisto,
porque desde a hora do almoço que não me dirigia a palavra.
Chamei-a: “Vou mandar o Cloreto deste mês à D. Maria Manuel.
Queres lê-lo?” Ouvi-lhe os passinhos curtos e leves, porém
circunspectos: “Pode ser…” E leu. E concluiu: “Se
as sondagens reflectem antecipadamente o resultado eleitoral, não
vale a pena o povo ir às urnas. Não se consegue mudar nada…”
Tinha razão.
Ouviu-se a campainha da porta. “Deixa-me ir abrir”, disse
ela. “São aqueles três de que falámos há pouco.” Para
mim: “Vai buscar o Balú e põe-lhe a trela.” Ainda a ouvi
cumprimentar: “Boa tarde, senhores doutores. Esperem um
bocadinho que o Balú já está quase pronto para o passeio. Aí vem
ele. Ah! Doutor Portas, tem aqui uns saquinhos de plástico para…
enfim, o senhor sabe… Pronto, divirtam-se e bom passeio. E se o
Balú não obedecer às vossas ordens não lhe prometam nenhum osso
extra. Ele é muito mais inteligente que muitos portugueses…”
In "O Montemorense", Outubro 2015
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