segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Duas reflexões

 


Novas ditaduras

O mundo começou, recentemente, a dar provas de uma polarização sem precedentes na política e nos partidos que a fazem. Os Estados Unidos da América e o Brasil são disso exemplo quando, nas urnas, a esquerda e a direita, nos seus conceitos mais tradicionais, lutam seriamente pelo poder, ganhando uma delas sempre à tangente.

Lula da Silva e Bolsonaro, recentemente, e Biden e Trump, em 2021, perceberam e mostraram como as respectivas nações de encontram divididas, com dois grandes grupos perigosamente separados e com uma força eleitoral muito equivalente. Sempre abominei ditaduras venham elas dos partidos e regimes admirados pelo Chega, surjam elas dos partidos e regimes idolatrados pelo PCP. Uma ditadura de esquerda, como as que dominam na Coreia do Norte ou na China, é tão perigosa como a ditadura Russa ou como a hegemonia bélica e territorial, e a política de ingerência noutros países, dos Estados Unidos da América.

Estes resultados e aquilo que todos nós vamos testemunhando levam-nos a concluir que as políticas de esquerda nem sempre são as mais liberais e que as de direita nem sempre são as mais conservadoras, mas, e é o que se revela mais importante, nenhum tipo de ditadura serve os princípios de um mundo livre e democrático. É então que se coloca a questão: se assim é, qual o motivo de resultados tão iguais nas eleições mais recentes? Por que terá vencido a candidata pelos Irmãos de Itália, um partido conotado com a extrema-direita italiana?

A História recente, bem recente, provou-nos quais eram as consequências para os cidadãos quando governados (leia-se oprimidos) por ditaduras: Hitler, na Alemanha, Mussolini, na Itália, Franco, em Espanha, Salazar, em Portugal, Estaline, na União Soviética. Regimes totalitários que não admitiam a diversidade, a pluralidade de ideias, de religião, de pensamento, tendo como remédio para tais “desvios” a censura, os campos de concentração, as prisões, as torturas, as deportações, os fuzilamentos. A História ainda mais recente mostra-nos o que acontece no Iraque, no Irão e noutros países onde a religião se confunde com o Estado e onde a ausência do voto livre se traduz num futuro de repressão, de miséria e de obscurantismo, sobretudo para as mulheres.

As novas gerações e o desconhecimento cada vez maior que têm da História, do nosso passado enquanto portugueses e europeus, pode ser um dos motivos pelos quais se começa a vivenciar este “ela-por-ela” entre regimes que podem assegurar alguma segurança aos seus cidadãos e outros que são, pelo discurso dos seus líderes, agarrados a um populismo nunca visto, uma clara porta aberta a um futuro incerto e meio obscuro. Por cá, os partidos do chamado Centro estão cada vez mais encostados à esquerda ou à direita, porque começam a perceber que é aí que vão recolher os votos de que precisam para “tomar” o poder. O Partido Socialista terminou há pouco uma relação com os partidos de esquerda, e o PSD anda, vai que não vai, a querer respirar os ares do Chega.

Os portugueses ainda podem, por enquanto, pensar por si. Os picos de crise económica, como a que está neste momento a acontecer, e que levam a graves crises sociais, são o rastilho para que, à imagem de outros tempos e de outras nações, surja um salvador da pátria, com olhos mansos e voz firme.

Cá por mim, vejo com olhos turvos os caminhos que se avizinham.

 

 

Uma nova escola

 A inclusão de inúmeros alunos de origem brasileira nas turmas das escolas portuguesas tem obrigado os professores a um golpe de rins como há muito não se via. Provenientes de um sistema de ensino completamente diferente do sistema português, estes jovens têm agora de se adaptar aos novos programas, à nova forma de testes e exames, à exigência que os profissionais aplicam à gestão das suas salas de aula e, até, à forma de falar dos professores portugueses que, como sabemos, nem sempre é completamente entendível pelos alunos brasileiros, quer pelo sotaque europeu, quer pela utilização de palavras e expressões do português de Portugal que nada têm a ver com o português do Brasil.

Ainda que unidos pela língua, falta-lhes, e a nós também, o conhecimento mais profundo de ambas as culturas e vivências, das experiências do presente e do passado, para que nos seja permitido a todos, alunos  e professores, criar uma plataforma de entendimento, de modo a que o sucesso escolar seja possível. Se há professores legitimamente preocupados com as avaliações dos seus alunos, tanto portugueses como brasileiros, outros pensam que essa questão, mais académica, deverá ficar secundarizada pela importância fundamental a dar, antes de mais, à inclusão desses jovens (e de outros de outras nacionalidades), não só nas nossas turmas mas também na nossa vida, na vida da nossa cidade e das nossas associações e grupos de trabalho ou de lazer. E sem esquecer que a nossa atenção deve igualmente estar virada para a adaptação dos alunos portugueses a estas novas relações, porque também eles estão a viver uma nova experiência, que sendo, à partida, enriquecedora e importante para o seu crescimento como seres sociais, tolerantes e inclusivos, pode não ser fácil de gerir e cimentar.

Porque as escolas se vão tornando a cada dia que passa, cada vez mais “internacionais”, é vital a alteração de todo um sistema com largas dezenas de anos, de modo a acolher um número cada vez mais crescente de alunos estrangeiros espalhados por todo o país e criar as condições adequadas para que os alunos portugueses possam e saibam receber e apoiar quem chega à sua escola, tendo deixado atrás de si uma história de vida, um lar, uma escola, amigos e familiares.

Até há uns meses a esta parte, tudo tem sido muito fácil. Vamos começar agora a ser postos à prova.

 João Luís Nabo

In "O Montemorense", Novembro 2022

1 comentário:

namastibet disse...

sem dúvida os próximos tempos serão tempos muito difíceis esperemos que a humanidade sobreviva a mais esta vicissitude

Distraídos crónicos...


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